quinta-feira, 12 de julho de 2007

romantismo de uma cética

Rio de Janeiro, 3 de novembro de 2002.
Querido espelho (já explico),

Havia uma tormenta em minha mente, então decidi escrever para me aliviar um pouco das idéias que me perseguiam. Como você bem sabe, acredito que as idéias e os pensamentos só tomam forma e podem ser melhor analisados ao ganhar o mundo. Por isso, trago-lhe meus pensamentos, para que você me ajude a analisá-los e desvendá-los. Ninguém melhor do que você para ajudar-me nessa árdua tarefa…

Então… depois desse primeiro parágrafo explicando o porquê de tão inusitada carta, posso, enfim, ir ao assunto que nos trouxe aqui: eu pensava em você. Ou melhor, em mim. Ou, mais exatamente, no amor. Calma que tudo é justificável.

Antes de lhe conhecer, não acreditava no amor. E talvez ainda não acredite. Bem, certamente não acredito no amor da forma em que ele é exposto na mídia. Não acredito na impossibilidade de uma pessoa viver sem a outra. Mas acredito sim que uma pessoa não queira viver sem a outra. Esse é o meu caso. Pelo menos por enquanto (Não acredito no perpétuo, mas adoraria que você me provasse errada).

Drummond escreveu: “o que pode uma criatura senão, entre outras criaturas, amar?”. Agora começo a entendê-lo. E começo a entendê-lo não porque amo (pois nem sei se amo), mas porque fiquei pensando nos mecanismos dos quais o coração se utiliza para escolher a quem amar. Renato Russo cantou “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?”. Com todo o respeito, não acredito na aleatoriedade do coração. Acho que, se gostamos, gostamos por um motivo, e se amamos, amamos por um motivo ainda melhor.

Prometo que esta será minha última citação, e, como não poderia deixar de ser, de um dos nossos poetas favoritos, Mário Quintana. “O amor é um beijo no espelho…”. Essa pequena frase norteou todo o meu pensamento. Escolhemos para amar àquele que mais se parece conosco: amamos quem tem em si o que gostamos em nós, ou o que gostaríamos de ter. Amar é enxergar-se no outro. Você é assim. É o que eu sou e o que eu gostaria de ser. É meu espelho.
Sei que havia prometido, mas outra (e agora sim última) citação se faz necessária… (nada como subverter minhas próprias regras) “Amar é admirar com o coração. Admirar é amar com o cérebro” (Theophile Gautier).

Perdoe-me se não pareço tão romântica, se a minha visão de amor é um tanto narcisista e egoísta, mas cada um é romântico a seu jeito. Eu sou ao meu. Talvez ao nosso.

Com amor e admiração,
LM

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