Nossos encontros sempre pareceram coisa do destino
Ou do bom acaso
Desde a primeira vez em que o vi, quando você era bege –
E bege, você sabe, é a expressão cromática do tédio.
Mas você sempre desafiou o mundo.
Você usava uma bermuda daquela cor que chamam de cru
(mas não é cor de verdade),
All star brancos que pelo uso já eram qualquer outra
tonalidade
e uma blusa lisa,
bege.
Seu cabelo loiro-palha completava uma palheta monocromática
com a pele que parecia nunca ver sol na vida.
Mas seus olhos, ah, seus olhos!,
Eram de uma cor que a astúcia humana nunca conseguiu imitar!
E o seu sorriso...
Ah, como é brega o que vou dizer,
Seu sorriso iluminava a noite –
Não daquele jeito artificial de comercial de pasta de dente,
Mas daquele outro que só a memória afetiva é capaz de
reproduzir.
Não foi nesse dia em que te conheci,
No dia em que você era bege e dançava pela rua
ao som de uma música que calava seus ouvidos para a
sem-gracice do mundo.
(Quando eu digo que dançava, não é modo de dizer.
Você dançava, literalmente, em frente ao meu caminho
E nem dançava lindo, mas dançava, e era tudo o que
importava.)
Você dançava enquanto eu andava em linha reta
E nossos caminhos não se cruzaram.
Não.
Nós nos conhecemos outro dia,
em que eu sentei na sua cadeira no cinema
(que não tinha lugar marcado).
Não lembro qual era o filme, eu estava no Seu lugar,
que era o Meu lugar,
na cadeira do meio da tela,
no único lugar em que se deve ver um filme no cinema
(e só Nós Dois sabíamos disso).
Mas nos conhecemos depois,
Quando nossos corpos se cruzaram,
Criando outra música, outra dança e todas as cores que
existem.
Até o bege.
Não.
Nós nos conhecemos antes,
bem antes,
bem antes,
Quando Deus criou o mundo,
ou foi a ciência?
Não importa: fomos nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário