sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Insônia

Já passa das três da madrugada, o relógio digital na mesinha cabeceira não deixa que ela se engane. Mas o tempo se confunde, naquele estado quase hipnótico em que horas se passam num piscar de olhos e minutos duram semanas sob um olhar mais atento. Os pensamentos se sobrepõem como roupas empilhadas no armário. Pensa num lugar pra onde deseja viajar e, de repente, lá está. Um centro urbano, cheio de desconhecidos, cada um cuidando de sua vida, assim como ela. Vestida com uma blusa linda que viu há poucos dias em uma vitrine, sua calça jeans favorita e aquelas botas maravilhosas que viu num comercial e decidiu comprar assim que encontrasse. Mas que bolsa é essa? Não se lembra de tê-la visto, certamente não a possui. Mas parece fácil de fazer. Boa idéia, decide comprar tecido e costurar uma bolsa exatamente igual àquela, assim que se levantar. Mas o que está fazendo ali mesmo? Ah, sim, foi encontrar-se com alguém. Onde ele está? Passa os olhos pela multidão, não reconhece ninguém. Espera! Lá no fim, onde a visão mal alcança… quase reconhece, mas ele se move rápido. Ela se vira para acompanhar e tudo fica escuro. Abre os olhos, os números vermelhos do relógio denunciam que se passaram vinte minutos. Mas para onde foram? Não estava dormindo nem nada, apenas pensando. Aquela bolsa, como era mesmo? Ah, nunca vai encontrar um tecido com aquela estampa. Mais uma idéia brilhante que não resiste à luz da realidade, como a maioria delas, aliás. Fixa o olhar no relógio, que parece se envergonhar. Os números só mudam quando ela não está olhando, já ouviu falar nesse tipo de coisa. É uma teoria de que cada coisa existe em seus inúmeros estados possíveis, ao mesmo tempo, quando ninguém está olhando. Mas quando olham, a coisa tem que escolher um estado qualquer pra se apresentar. Acreditava nisso quando era criança, muito antes de ouvir falar nessa teoria, coisa de física quântica. Quando jogava dados, por exemplo, cobria-os antes que alguém pudesse ver, inclusive ela mesma. Tinha certeza de que, se ela pensasse bem forte enquanto ninguém sabia o resultado, os números mudariam para aqueles que ela queria. Mas logo que pensava nisso, sentia-se culpada: os deuses mudariam os números só porque ela tinha descoberto como aquilo funcionava. E quando demonstrava a consciência de que os deuses mudariam tudo, também sabia que eles mudariam tudo de novo só pra confundi-la, pra que ela não soubesse que eles sabiam que ela sabiam. E quando ela chegava a essa conclusão, mudava tudo de novo, sempre neste círculo vicioso cuja única chance de quebra era parar de pensar nisso. Mas o pensamento tem vida própria, continua baixinho, incansável, mesmo que a gente canse dele. Pra evitar tanto trabalho, parou de cobrir os dados - Medida que não foi tão eficaz quanto supunha: se os números não correspondessem à sua vontade, imaginava como teria sido se os tivesse encobertado e caía no mesmo dilema. Até que parou de jogar dados. Era mais saudável, mentalmente falando. Mas até conseguir se livrar desses pensamentos, a lógica foi aplicada em muitas coisas. Na escola, antes de olhar a nota de uma prova, por exemplo, ficava segurando-a, calada, concentrada, desejando que a nota tivesse sido boa. Adiava a vista ao resultado até o último momento, como se alguma coisa pudesse mudar. Continuou com isso até que contou sua lógica para o irmão mais velho, que facilmente a refutou: de nada adiantava que ela adiasse e “pensasse bem forte” se a professora que tinha corrigido a prova já sabia da nota. Era lógico, mas a menina que ainda acreditava em mágica demorou um pouco pra se convencer totalmente. Voltou a olhar para o relógio, dois minutos se passaram. Não é possível! Todo esse resgate de memória, todo esse pensamento lógico, só valeu dois minutos? O tempo não é justo. Mas, pensando bem, o pensamento não foi tão lógico assim, afinal, o relógio deveria se comportar normalmente enquanto ela o observa, não é? Cada minuto deveria durar exatos sessenta segundos. E será que duravam? Será que o problema não estava no relógio, mas na sua própria percepção? Resolveu contar os segundos. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, dez, vinte, cento e oitenta e quatro, os dados, a bolsa… hã? Quando deu por si, já eram quase cinco horas. Os primeiros raios de luz apareciam lá fora, ela decidiu parar de se torturar. Não conseguia dormir, não fazia mal, não ia trabalhar, não tinha nada marcado, poderia perfeitamente dormir à tarde se batesse o sono. Era melhor se levantar logo e deixar a cama livre para a madrugada se deitar. E levantou. Caminhou até a sala e sentou-se no sofá, decidindo o que faria a seguir. Fechou os olhos um instantinho, só para visualizar melhor as possibilidades. Podia comer alguma coisa, tomar um banho, ler um livro, ver um filme, comer, banho… e adormeceu sentada no sofá.


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é só um trecho. Deve fazer parte de um texto muuuuito maior, se um dia eu conseguir terminá-lo...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Carrego sentimentos alheios

As lágrimas são de um filme
tão triste, mas tão triste, que não adiantou a mensagem de esperança no final
ficou o sal na lembrança, a perda,
e a repentina vontade de chorar
sem explicação

Falando em vontade,
essa que às vezes me dá,
de dançar enlouquecida, sem jeito e sem parar,
é toda daquela melodia de notas agudas, harmoniosa, alegre como riso de criança,
que grudou na cabeça feito chiclete
e não sai de jeito nenhum porque eu não sei assoviar

Já todo esse amor que eu sinto,
desmedido e sem explicação,
que é maior que tudo no mundo (o universo dos amores)
tão feliz e correspondido,
não passa de ficção
Vem daquele livro que eu leio há anos e nunca termino
(pra ser sincera, nem pretendo terminar!)…
é que quando tô chegando no final, dá uma saudade!…
aí eu volto, releio, sinto mais um pouquinho,
e me apaixono tudo de novo, como na primeira vez

Sabe o meu lado sombrio? veio de uma pintura
aquela que é quase poesia, quase desespero
uma amargura sem alento
com cores sérias, frias e escuras
que não formam nada definido,
nem mesmo esse sentimento…

E essa solidão,

...Essa solidão…

Ah, não, essa é minha mesmo.

domingo, 12 de outubro de 2008

Ti

longe de ti
não tenho com quem me intercalar
as madrugadas são silenciosas
o silêncio é sozinho
e a saudade me consome

longe de ti
não sei mais onde é meu lar
todas certezas são vaporosas
o mundo fica pequenininho
e meu ego morre de fome

lu, sem ti, é só bege

sábado, 11 de outubro de 2008

Algodão-doce

Acordou pensando em algodão-doce. Daqueles que vendiam em shoppings, parques e festas de rua quando era pequeno, mas que a mãe nunca comprava. “Isso é açúcar puro! Só serve pra engordar e estragar os dentes!”. Aí, ao invés do doce, ganhava rodelas de cenoura no jantar. “É saudável, tem betacaroteno e ainda é adocicada! Isso sim faz bem pra criança”. Como se ele se importasse com o betacaroteno! Mal conseguia pronunciar a palavra! Hoje em dia, se recusa terminantemente a comer cenoura. “É comida de cavalo e de coelho. Não sou nenhum dos dois”. Quando tinha aniversário de algum amiguinho, a coisa mudava de figura. “Pode comer tudo o que quiser. Pega uns pra levar pra casa. Não se recusa nada que é de graça!”. Obediente, não recusava nenhum doce e ainda catava quantos conseguisse e carregava pra casa, onde reinava a antiga regra da moderação: só podia comer um ou dois por dia, dependendo do tamanho. E só depois das refeições, sem exceções.

A primeira vez que se deparou com uma máquina de algodão-doce foi em uma dessas festas, ele devia ter pouco mais de três anos. Seus olhinhos infantis ficaram maravilhados: como aqueles pequeninos cristais (que só foi descobrir ser um tipo de açúcar anos mais tarde) jogados no furo de uma bacia giratória se transformavam em teias coloridas? Em sua cabecinha fantástica, aquilo sim era mágica, sem enganação! Nada de moedas saindo de orelhas, de panos-coloridos-sem-fim, de bolinhas que se dividem e multiplicam… nem coelhos que nascem de cartolas o interessavam! Era criança, mas não era bobo: sabia que tudo aquilo não passava de truque. Já tinha visto o avô fazer um desses e ele não era nenhum mágico! Bastava a moça pegar o palito para sua inquieta atenção se fixar na dança entre mão, palito e teias coloridas. Receber aquele algodão cor-de-rosa era como ganhar um prêmio. Um troféu quase maior do que o próprio menino, mas tão leve! Deliciou-se por alguns minutos até o doce acabar e então, satisfeito e melado, descobriu qual era sua missão de vida: desvendar todos os mistérios do algodão-doce.

Algumas festas depois, percebeu que o universo queria lhe pregar uma peça. Não havia ali a máquina mágica, os doces já estavam prontos, em várias cores, espetados em uma… árvore! Ora, mas não podia ser! Sabe, os adultos têm sempre a impressão de que as crianças são bobas e fáceis de se enganar. Tolice! Elas se deixam enganar de vez em quando, só pros adultos ficarem felizes. Mas ele não ia se deixar enganar, sabia muito bem que algodão-doce não dava em árvore, já tinha visto de onde nasciam: da bacia giratória com o furo no meio. Enquanto todos os outros deviam estar acreditando que aquilo era mesmo uma árvore de algodão-doce, ele, do alto de sua meninice, sentiu-se o mais esperto dos espertos.

Os doces da árvore eram um pouco menores que os da bacia e já vinham ensacados, mas eram igualmente deliciosos. Achou legal isso de já virem ensacados porque assim dava pra levar pra casa. E foi o que fez. Daquela festa, não levou bolo, bola ou brigadeiro, só algodões-doces, tantos quanto foi capaz de segurar. Quatro (com algum esforço e muito cuidado para não se amassarem), que durariam quatro dias, pois a mãe o deixava comer um depois do almoço, mas não depois da janta, “muito açúcar de noite não deixa criança dormir!”. Esperou ansiosamente pelo almoço do dia seguinte, mas quando pegou o doce, percebeu que estava meio murcho. Tirou o saco cautelosamente e, ao tirar um pedaço, achou a textura um pouco diferente. No contato com a saliva, notou que o algodão derretia como se fosse calda de pudim. Hummm. Ficou um pouco intrigado, mas logo a mãe o chamou e ele foi brincar.

À noite, depois da janta, achou melhor ver como estavam os outros algodões-doces. Escalou a cadeira e sentou-se. Os saquinhos estavam ali, deitados sobre a mesa, ainda mais murchos do que de manhã. Imediatamente lembrou-se das bolas que trouxeram uma vez de outra festa: chegaram cheinhas e redondas, mas foram encolhendo, encolhendo, encolhendo… até que encolheram tanto que ele não podia mais vê-las! “Será que… não! O algodão doce é mágico, não vai sumir assim!” Mas a esperança durou poucos segundos, porque logo em seguida lembrou-se de outra bola, que ganhou em um parque. Ela era prateada, meio achatada e… voava! Seu pai disse que era uma bola mágica e só podia ser mesmo: ela nem tinha asas e sabia voar! Logo aprendeu que é mais fácil de perder uma coisa que voa do que qualquer outra, e por isso, a bola estava amarrada a uma linha que ficou segurando como se daquilo dependesse sua vida. Chegando em casa, amarrou a linha na cama, mas continuou segurando só pra ter certeza de que a bola não ia fugir. E ela não fugiu. Mas no dia seguinte, voava um pouco mais baixo. E ela foi caindo, caindo, progressivamente, até que um dia desapareceu, sem deixar pistas. Fugiu, morreu, coitada. Será que foi de tristeza por ficar presa? Dizem que a infância é a época mais importante da vida de uma pessoa, e deve ser mesmo. Além de não comer cenouras, desde que entendeu que as coisas morrem aprisionadas, nunca criou peixe ou pássaros, nem teve um relacionamento duradouro. Ah, mas isso é outra história. Voltemos àquela noite, sentado, na cozinha, vendo os algodões-doces murcharem… e pensando: como se liberta uma coisa que não voa? O mais esperto dos espertos abriu todos os sacos e comeu todos os doces de uma vez. Ao perceber o silêncio na casa, a mãe, indignada, apareceu na cozinha e encontrou o menino todo lambuzado, cercado de palitos e sacos rasgados. “João Pedro, o que você está fazendo? Por que comeu tudo de uma vez?”. “Eles iam fugir, mamãe”. Ele ainda tentou explicar sua lógica infantil pra se livrar do castigo, mas a mãe achou a cena tão engraçada que deixou pra lá.

Naquela noite, não conseguiu dormir direito. Dessa vez, não porque estivesse com a cabecinha a mil tentando desvendar o mistério, mas por causa da dor de barriga que o assombrou por toda a madrugada. Depois disso, ficou com um pé atrás com os doces, aquela dor de barriga só podia ser um castigo. Primeiro ele aprisiona um ser mágico em um saquinho e, ao invés de libertá-los e comê-los logo no dia da festa, deixou-os ali parados, sem função, tristes, sozinhos e abandonados. Ai, quando começaram a fugir, ele, em seu desespero, impediu. Não podia tê-los deixado presos, depois não adiantava mais remediar. Seria essa a lição? Ou será que tinha outra coisa que ele devia der feito? Felizmente sua cabecinha infantil não se perdia nesses devaneios, ainda não se interessava por lições de moral, especialmente essas lições sutis do dia-a-dia. Aos poucos, foi-se esquecendo do acontecido e arrumando novos interesses e descobertas. Voltou a comer o doce outras vezes durante a infância, mas nunca mais experimentou aquele fascínio inicial. E depois, conforme foi crescendo, algodão-doce foi virando artigo cada vez mais raro. Onde já se viu adolescente comendo algodão-doce?! Também não é coisa de adulto! Não vende em restaurante, nem em padaria ou em supermercado… A vida foi passando e ele foi se esquecendo da existência da nuvem cor-de-rosa no palito. Até aquela manhã.

Aos vinte e tantos anos, sem qualquer motivo aparente, João Pedro acordou pensando em algodão-doce. Não era nem vontade de comer, era outra coisa. O oposto da saudade, um tipo de felicidade que só se sente em reencontros. Mas que reencontro? Fazia anos que sequer via um algodão-doce! Também não tinha sonhado com isso. Quer dizer, não se lembrava bem de seu sonho, mas sabia que não tinha algodão-doce. Tinha uma pizza. Um filme. Era um cinema? Ou era um carro? Ah, sonhos são sempre confusos, só fazem sentido enquanto se sonha. Tinha uma árvore também. E seu cachorro, o Rony. E Ana, Ana também estava no sonho. Foi ela quem levou a pizza? Ah, quanta bobagem! João terminou o café e saiu para o trabalho.

Não pensou mais nisso durante o dia. Nem à tarde. Era sexta-feira, só o que interessava era que o dia terminasse logo e desse lugar ao fim de semana. A semana tinha sido cansativa, trabalhara muito e merecia um descanso. Tinha combinado de se encontrar com Ana, iam tomar um chope pra comemorar qualquer coisa. Ela era bonita, inteligente e divertida, sua companhia favorita para uma sexta à noite. Encontraram-se numa pizzaria. Se abraçaram, trocaram beijinhos. De repente ele percebeu que aquilo era amor: Ana cheirava a algodão-doce.
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Falta revisar, mas tô com preguiça...

terça-feira, 15 de julho de 2008

Pedaços

Psiu!
Você ouviu esse barulho,
como um cristal se estilhaçando?

Agora não há mais norte,
nem sul, nem leste ou oeste.
Não há chão onde se equilibrar.

E como respirar?
meus pulmões tentam,
cada vez mais forte,
mas não conseguem:
não tem ar.

Acabaram-se as certezas,
todas elas.
No céu não há sol,
ou lua, nem estrelas.
Se antes o mundo era esquisito,
agora o caos perdeu a bússola.

Nem mais palavras,
não há.
Nada a dizer,
nada a ouvir.

Apenas um sentimento,
só um.
quase raiva,
quase tristeza...
É mágoa.

Já não era mais o mesmo,
mas nem importava.
Como mudou? nem percebi...
O que tínhamos se desfez:
Foram-se os laços,
foram-se os nós,
o Nós.
Agora eu; você
separados por ponto-e-vírgula,
cada um pro seu lado
(e ninguém ao meu)

A memória afetiva até tenta
fazer com que o tempo pare
como em fotografia
e conservar os elos, as rimas,
aquela nossa magia...
Mas nós não paramos no tempo
e quando a gente segue
e se perde,
perde-se
o que pensei ter tido a sorte de encontrar,
de construir,
de cuidar...
Tudo se despedaça.

E não há mais norte ou sul,
lua ou sol,
chão ou ar,
ou magia...

E não tem cola.


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é uma idéia na qual vou trabalhar. postando só pra constar.
Beijinhos!

sábado, 31 de maio de 2008

Parece

Parece que foi ontem
que comecei a te amar
no entanto,
já se passaram vários outonos
e primaveras e invernos e verões
Conheço os seus tiques, suas manias,
todos os defeitos da nossa relação
Como se fossem meus,
tiques, manias e defeitos,
e que na verdade o são.

Parece que foi ontem,
mas não.
Daqui a pouco vem outro sábado,
outro domingo, outra estação.
O tempo passa, as coisas mudam,
e você continua aqui,
neste meu coração.
Aqui.
Mudo, quietinho,
ajudando nas rimas fáceis
e afastando a solidão…



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Esse texto tava aqui no computador há meses, esperando pra ver se eu o melhorava e postava. Já tinha me esquecido, econtrei-o por acaso, tanto acaso quanto um caderninho verde fluorescente pode sinalizar, e lembrei que devia até estar digitado, aguardando pacientemente por melhorias. E estava mesmo, o coitado. Só que não consegui pensar nas melhorias. Acho que falta uma rima lá no início e algo menos piegas do que "parece que foi ontem". Especialmente, ele merecia um título diferente. Essa coisa de o título ser igual ao primeiro verso é muito padrão-automático-do-word. Mas minhas mãos estão geladas e os dedinhos finos da criatividade parecem terem congelado junto. Se alguém pensar em algo melhor, agradeço. Agora chega, acho que estou tendo outra idéia. Bjins

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Blefe

Eu tento disfarçar
pra expurgar minha culpa,
mas a verdade,
verdade verdadeira,
é a seguinte:

Eu sou uma chata.

Uma chata cheia de manias
Irritante
Adoro desculpas do existir,
coleciono palavras,
mimetizo escritos,
sinto em melodias,
e gosto de lilás.

Aliás, é a minha cor

Todo mundo tem uma cor
(ou pelo menos deveria),
aquela da qual sentimos ciúmes
e que só se empresta a quem se ama

A minha é essa, lilás

É...
Sou mesmo uma chata,
não nego.

Mas
se você quiser
eu lhe empresto agora
todo o meu lilás,
sem nem pestanejar.
todinho.

Aceita?


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Esse texto foi livremente inspirado em versos de uma poesia da Fernanda Youg, que estou com preguiça de transcrever (e não tem nome e nem número de página pra que eu possa citar). Daí, catei no google e o encontrei postado em um blog, o link é esse, pra quem quiser ver: Fernanda Young nas Teclas de um Computador. O blog, não sei de quem é, mas pareceu bom, apesar de largado desde 2009...
Dentro em breve vou publicar outro post cheio de versos da Young. É que acabei de ler o livro de poemas dela e estou impregnada pelas idéias (nesses casos o contágio é uma coisa boa). Pena que não posso me entregar ao teclado agora. Não agora. Mas daqui a pouco as palavras não me escapam, nem que elas tentem! Vou caçá-las, com unhas e dentes, sem possibilidade de escapatória! Mas daqui a pouco.... agora tenho que ir.
Beijos a tod@s que ainda têm coragem de passar por aqui!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Manuscrito

Quando a saudade aperta
(sem dó ou piedade
como um temporal inescrupuloso
que cai inundando a cidade)
arrumo abrigo em tuas palavras
antigas
amigas
amantes

em teus escritos encontro proteção
e já não há vento,
relâmpago ou trovão
no teu ritmo, em tua melodia,
decifro teu universo particular
e apago qualquer gota de solidão

sei de cor cada verso
teu coração
decorado com tua caligrafia

No livro de achados e perdidos da vida
lá estás
letra a letra
comigo em toda rima
ao meu lado em cada linha
na de partida
na de chegada
e ao longo do caminho

e o que faço com tanta nostalgia?
Cada lágrima agridoce
verte uma poesia
sem atenção à rima
à métrica e à razão

O que inspiro
não é ar
O que me inspira
é sua alma

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Cuidados

Não me venha com promessas vãs
não invente que sem mim não vive
que meu sorriso ilumina o mundo
que eu sou seu talismã...

Não me apareça com rimas prontas
clichês de comédia romântica
histórias de almas gêmeas
e todo esse amor de faz-de-conta...

Não diga que me ama...
em menos de uma semana,
não há jeito de eu acreditar!
Não diga coisa que você não sente
Não tente se adequar aos meus sonhos
não exagere no desejo de agradar!
Nunca diga nada sem significado
me assusta quem mal sabe que mente...
Por isso, falar muito não adianta
palavras só tocam a superfície
atos é que são provas
o melhor jeito de amar...

Se você vier muito afobado
achando que é meu dono
e ficando logo grudado
eu fujo!
Rapidinho me afasto!

Tanta urgência desmedida
só pode ser carência
loucura, obsessão...

Amor de verdade vem aos poucos
precisa ser conquistado
cultivado,
aprimorado...

Posso parecer fria
insensível, cínica e desinteressada...
Mas não se iluda:
eu sou é cuidadosa, precavida
e, acima de tudo,

Frágil.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Já era, já foi!

Quando você me cativou
Pôs as estrelas aos meus pés
Pintou nos meus dias as suas cores
Prometendo-me um futuro encantado

Mas você partiu e me quebrou
Fez da minha sorte revés
Transformou a vida em dores,
Em um inverno muito demorado...

Até que um belo dia você voltou
dizendo trazer de saturno os anéis,
querendo enfeitar o mundo com flores...
Como se nada houvesse mudado!

Mas agora eu sou outra, não notou?
Achei que era pra sempre, mas, ao invés,
Vi que o tempo cura tudo, até amores!
E fortalece um coração abandonado...

domingo, 13 de janeiro de 2008

Amantes futuros

Minha alma rima com a sua
mesmo nos versos mais incomuns...
como em canções de band-aids no calcanhar,
de rapazes latino-americanos sem dinheiro no bolso,
ou de escafandristas que virão explorar...

Nossas vidas é que destoam,
em tempo, espaço e harmonia
como o vozerão do locutor da rádio,
incompatível com sua figura franzina.

Mas não se afobe não, que nada é pra já...
é só um problema de ritmo,
nada impossível de se consertar!
(mesmo porque, toda dificuldade é relativa:
é bem mais fácil, por exemplo,
do que fazer a paz no Oriente reinar)

Em outra analogia musical,
nós dois somos como o jazz:
cheios de improvisos...
ou, numa mais visual,
um quadro alegre do Romero Brito.

O fato é que,
ainda que desencontrados,
somos arte
em todos os sentidos.


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É válido escrever as impressões sobre meus próprios escritos? Pensei um pouco nisso (menos de meio minuto, imagino) e conclui que sim, pelo menos pra referências futuras. Mesmo pq, aquele bonito plano de só escrever sem esses comentários pessoais já foi pro espaço mesmo! Então, achei esse textinho muito simpático, mas acho que falta alguma coisa. Ou talvez sobre, não sei. Pode ser que funcionasse melhor com rimas de verdade ou com alguma mensagem melhor elaborada... enfim, escrevi agorinha, sem preparativos ou pós-produção, surgido do nada, de repente mesmo, nem sei sob qual inspiração. Tendo em vista tais condições, eu até gostei. Se alguém tiver sugestões, eu aceito. Todo texto meu é uma obra aberta. Quer dizer, quase todo. De alguns eu quase tenho ciúmes, mas são raras exceções.
Então tchau.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

o peso, a leveza e o amor nisso tudo...

Leve o suficiente
para não ser um fardo;
Pesado o bastante
para não se esvair no ar

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Os calendários marcam um novo ano, mas as mudanças param por aí. Dessa vez não perdi meu tempo fazendo resoluções de ano novo, das quais certamente iria me esquecer em poucas semanas... é preferível perder tempo com coisas pouco menos improdutivas. Já as coisas produtivas andam fora de meu alcance: o tal hiato criativo continua tomando conta de mim. Com tamanha falta de inspiração, não tenho escrito nem comentários nos blogs preferidos. Mas hoje resolvi me esforçar a escrever algo e, como o resultado até agora não está muito bom, vou parar logo e visitar os blogs alheios - que certamente hão de me inspirar a comentar e, quem sabe em pouco tempo, também a produzir novos escritos próprios e publicáveis.

Ah, "O peso, a leveza e o amor nisso tudo" foi apenas uma anotação feita em um caderninho na época em que li "A Insustentável Leveza do Ser", do Milan Kundera.

Até!