sábado, 21 de julho de 2007

chuva


“O coração é um músculo muito elástico”
Woody Allen,
em Hannah e Suas Irmãs

Começou um temporal enquanto voltava para casa.

Lembrei-me outro como este, quando você me deixou
e eu saí andando sem rumo madrugada adentro,
desejando que aquela água lavasse a alma
e levasse embora as lágrimas.
Só mesmo o barulho da chuva chicoteando o chão
pra abafar gritos de tristeza, raiva e incompreensão.
Cheguei a desejar uma pneumonia arrebatadora,
para culpá-lo ou pelo menos justificar tanta tristeza
(talvez a dor física pudesse superar as dores do coração).

Há tempos não pensava em você
(que fez temporal em minha vida)...

Cheguei em casa encharcada
lembrado de outro tempo,
quando te acompanhei a um lugar estranho,
cercada por gente estranha,
apenas seguindo o teu sorriso.
Sozinha
perdida
iludida.


Hoje,
o som da chuva no telhado a fazia parecer mais forte do que era
(o diabo nunca é tão ruim quanto o pintam).
Já quase seca, um impulso leva-me de volta à chuva,
na varanda
As gotas tocam meu rosto,
como o céu devondo as lágrimas derramadas;
uma remição tardia.
De repente, um sorriso,
que vira risada
e explode em gargalhada.

Quem está na chuva é para se molhar.
Mas depois a gente se seca.
Eu me sequei.

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