Você diz que me ama, que eu sou algo assim, brilhante, linda, a mulher da sua vida, sua estrela, seu porquê. E eu sinto tanto medo de que um dia você vá perceber que eu não sou assim essa Brastemp, que não sou suficiente, que eram só as cores da sua memória afetiva me maquiando… e aí você vai partir, me deixar sozinha, sem colo, sem cola, partida. Ou de que um dia você vai encontrar alguém que realmente mereça toda essa atenção, todo esse amor, essa devoção… e eu vou ficar à margem, obsoleta, sem lugar no mundo, sem mundo, sem chão. Se eu não tivesse toda essa certeza, essa tristeza antecipada, essa vontade de chorar… Talvez aí eu conseguisse aproveitar de verdade o nosso tempo juntos, sem achar que tem prazo validade e que vai estragar. E eu tenho ciúmes de todas suas outras possibilidades, da beleza da sua vida sem mim, da tranqüilidade, sim, porque sem mim, você vive em paz, sem os terremotos, os maremotos, a instabilidade dos vulcões… E você é assim, todo certinho, todo centrado, arrumadinho, cheio de planos e planejamentos, enquanto eu sou o caos, fora do mundo, fora do tempo, errante e errada pra cacete mesmo e sempre descabelada. Mas nós dois juntos somos perfeitos, quer dizer, pra mim é tudo perfeito, tudo completo, tirando a parte em que minha própria imperfeição e falta de fé me enchem de *mas...*, essa maldita partícula adversativa dos infernos, que se junta aos *e se* e macula tudo o que há de certo e bonito na minha vida. E não é que eu queira que acabe, eu não quero que acabe!, nunca!, eu quero ser o seu *para sempre*, mas sem conto de fadas, porque eu não acredito em fadas e quero uma vida real, com reclamações de vizinhos e contas a pagar, com mais altos do que baixos, mas juntos e sempre, pro infinito e além. E eu sinto medo de ser provisória, quando devia ser eterna… Só que eu não sei ser de outro jeito, do jeito que eu queria que fosse, que fôssemos, que somos, ou seremos. Eu nem sei que jeito é esse, eu sou uma bagunça até em espírito, encabriolada desde antes de nascer, aposto. E você me atura, as mudanças bruscas de humor, as piadas ruins, a preguiça e a hiperatividade, os filmes bregas e as músicas cafonas, você agüenta tudo, e ainda sorri, com esses olhos que me derretem e hipnotizam, fazendo as coisas chatas da vida suportáveis, esses olhos que me enxergam de um jeito que só você mesmo, uma versão melhorada de mim, maravilhosa, e é isso!, é essa que eu queria ser, a minha eu-você, e *me transformar no que te agrada, no que me faça ver quais são as cores e as coisas pra te prender*, porque eu me pinto delas todas pra você, sem exceção, até de mostarda, que é a cor mais feia que já inventaram. E eu sinto medo de te espantar e te fazer fugir com toda esta afobação, esta intensidade, e de você cansar dos meus esmaltes coloridos, dos penteados inusitados, das ironias e comentários fora de hora, porque é você a primeira coisa que eu quero ver todos os dias quando abrir os olhos de manhã, a única pessoa que quero beijar antes de dormir, e com quem eu sonho, sempre, entre uma coisa e outra. Porque é isso, eu te amo mais do que chocolate com cereja, do que dormir até tarde em dias chuvosos, do que viajar, do que ler histórias de amor e assistir a comédias românticas, do que ouvir Kings of Leon bem alto, cantando desafinada e dançando desengonçada, mais do que o último pedacinho crocante de brócolis frito.
Aliás, eu te amo mais do que Lilás.
Aliás, eu te amo mais do que Lilás.