Da janela da sala vejo uma goiabeira. Não entendo nada de árvores e seu relacionamento com as estações, mas mesmo à distância do meu astigmatismo, aquelas parecem jovens goiabas. É uma árvore alta, de tronco meio camuflado, cheia de folhas verdes – as mesmas folhas que na época marrom do ano se amontoam em minha varanda. Há quanto tempo será que esta árvore está ali? Qual será sua história? A goiabeira é vizinha do que deve ser um pé de abacate. E de outra árvore que me parece uma mangueira. Mais além há um coqueiro e muitas outras árvores que não imagino quais sejam seus frutos, mas que, pela altura dos galhos, sei que já presenciaram muitos anos de acontecimentos desta cidade. Provavelmente todas elas já estavam aqui quando este prédio foi construído. Devem ter alimentado os operários enquanto misturavam o cimento e empilhavam os tijolos. Mais tarde, serviram seus frutos aos primeiros moradores, possivelmente na época em que ainda havia bondes em Niterói e a ponte não era nem um sonho. E continuaram ali por todos os anos, despedindo-se das pessoas que iam embora saudosas e recebendo as que chegavam cheias de esperança. Quando eu me mudei pra cá, há quase dois anos, também era época de goiabas. Lembro de pensar em amarrar uma latinha na ponta de um cabo de vassoura para colher as frutas, coisa que até hoje não fiz. De repente corre um vento e… plaft! Uma goiaba cai sobre o teto da casa vizinha. Plaft!, outra. Quanto o mundo já mudou desde que essas árvores foram plantadas? Sei que, desde que eu me mudei pra cá, muito já mudou. No mundo e em mim. E nenhuma dessas árvores precisou fazer nada para que isso acontecesse… O tempo vai passando, invisível, como o vento, mudando tudo ao redor tão sutilmente, que é preciso que se passem anos até que percebamos. Tudo muda. Eu, por exemplo, estou me mudando, mês que vem. Vou abandonar esta goiabeira sem nunca ter provado um de seus frutos, deixando-a como testemunha dos frutos metafóricos que eu plantei por aqui. Não sei se eu fiz alguma diferença na vida desta árvore, mas sei que ela, mesmo imóvel, calada e além da grade, fez alguma diferença na minha.
E ainda há quem se recuse a ser revolucionário dizendo que nada adianta, que o mundo nunca vai mudar… Enxergar é preciso!
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(Esse é antigo, mais exatamente de 22/03/2006, quando eu estava terminando a 1ª faculdade, saindo de Niterói e voltando pro Rio. Mas acho que nunca tinha publicado. Então, voilà - Só enquanto não ajeito o antigo que pretendo republicar e que ainda não tem fim)
Um comentário:
exagerar é preciso.
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