segunda-feira, 7 de março de 2011

Reencontro

Uma história em três atos


(…) Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis
Consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca”


 Ato 3

- Esperando alguém?
- Você. Tinha certeza de que ia lhe encontrar aqui, então vim.
- As estrelas disseram?
- Por aí. Esperando alguém?
- Na verdade não. Estava de passagem, vi você, vim até aqui. Não podia decepcionar as estrelas.
- E o advogado?
- Você tinha razão. Namoramos por dois meses e eu entendi que não tinha futuro. Era sempre um papo muito chato.
- Esses advogados...
- Agora estou solteira. Livre, leve e solta.
- Como havia de ser!
- E é. E a menina pouco brilhante? Virou ex mesmo?
- Virou. Ela me trocou por um estudante de medicina. Acredita?!
- Nossa, será que era Ele!?
- Não sei. Mas foi bom, pelo menos eu não precisei me sentir culpado por terminar com Ela.
- Aposto que você até se fez de muito magoado para Ela se sentir culpada.
- Ah, só um pouco...
- Vocês, homens, são sempre assim: detestam terminar namoros. Preferem que as mulheres terminem para não precisarem sentir culpa.
- Não é bem assim. Foi para o bem dela. Tenho certeza que ela ficou muito mais feliz acreditando que eu queria continuar o namoro do que se eu tivesse terminado.
- O estranho é que esse raciocínio tem bastante lógica. E até um quê de romantismo.
- Claro que tem, eu sou romântico, já disse. Falando em romances, será que chegou a nossa hora?
- Pergunte às estrelas.
- Elas não sabem. São só estrelas, não bolas de cristal. Nem relógio.
- Você tinha razão, você é estranho.
- Eu avisei.
- Só num terceiro encontro para perceber.
- É meu charme. O maior de todos.
- Conceitos estranhos...
- Ah, disso você já sabia! Você deve mesmo ser minha lagosta.
- Você vê friends! As chances de você ser minha lagosta aumentaram exponencialmente.
- Nossos encontros e desencontros não podem ser por mero acaso.
- Isso já tá virando filme.
- Dirigidos por Sofia Coppola. É, acho que temos futuro. Ela pode até dirigir, mas nós fazemos o roteiro.
- Então vamos logo combinar: nada de filme de terror. Suspense, só de vez em quando.
- Comédia romântica ou filme cabeça?
- Sejamos cult, enquanto pudermos. Mas não muito, pra não cansar.
- Antes de mais nada, eu devo confessar uma coisa.
- Então vamos começar com confissões?! Espero que não vire filme religioso... ou pior, policial. Não matou ninguém, né? Seria muito estranho ter que ligar pro ex-namorado...
- Estranho, desagradável, tanto faz. Mas não matei ninguém, pelo menos que eu saiba. E também não é nada que me obrigue a rezar um rosário para me redimir.
- Você não tem mesmo a menor cara de quem reza rosários...
- Nem sei no que consiste, na verdade. Mas para de me enrolar e deixa-me confessar: desde que nos conhecemos, sempre marco meus encontros aqui.
- Eu sou mesmo irresistível, é o meu charme!
- E pretensiosa...
- Aprendi com você!
- Sorte que em você funciona.
- Bem, já que estamos confessando...
- Acho que mais cedo ou mais tarde vamos ter que descobrir como se reza um rosário!
- (risos) Eu também. Também acho e também marquei muitos encontros por aqui na esperança de rever você.
- É, teria sido mais fácil se você tivesse me dado o seu telefone…
- Nem sempre o melhor caminho é o mais fácil, né!
- Dificilmente é o mais divertido também.
- Então vem, vamos nos divertir.
- Fácil assim?
- Prefere esperar outro encontro casual?
- Claro! não sei começar nada sem meu charme de 15 minutos atrasado.
- Eu não abusaria da sorte…
- Peraí.

Alex sai. Marcela fica olhando, sem entender nada, até ele virar a esquina e sumir de seu campo de visão. Ela pensa que talvez ele tenha ido telefonar pra desmarcar o encontro que estava esperando, então espera. E espera mais um pouco. Depois de 5 minutos, começa a pensar que ele deve ter ido ao banheiro. Ou ele tinha marcado vários encontros com várias pessoas. Não… será? Não!… Depois de 10 minutos, já irritada com aquela espera toda, ela começa a reparar que os sapatos que está calçando aperta  os dedões dos pés, o que a deixa ainda mais irritada! De repente, ela é abraçada pelas costas, mas nem tem muito tempo de se assustar e sente um beijo em seu rosto, muito carinhoso, beijo de gente culpada.

- Estou há quinze minutos te esperando, aff! Esse seu charme não funcionou comigo. - Ela fala olhando pra ele, franzindo a testa e cruzando os braços. Faz até um bico indignado pra completar a pose.
- Eu não acabei ainda. - E, de surpresa, dá um beijo nela, na boca dessa vez, né!, desmanchando aquele biquinho, e bom, hummm.
- Hummm... então é esse o seu charme...

quarta-feira, 2 de março de 2011

Desencontro

Uma história em três atos

“(… )Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar (…)

Ato 2

- Você marca todos os seus encontros aqui? – Ela o surpreende com um sorriso no rosto.
- Só quando você marca os seus.
- Como você sabe que vou encontrar alguém?
- Elementar. Eu sou sua versão masculina, lembra?
- Somos almas gêmeas.
- Muito provavelmente. Ele tá atrasado?
- Não, ainda não. Dessa vez eu cheguei na hora. Ele tem quinze minutos de tolerância.
- É o médico?
- Não, é outro. O médico virou ex mesmo.
- Namorado?
- Não exatamente. Pelo menos não por enquanto e não com o rótulo.
- Imitadora.
- E você, esperando a futura namorada em potencial, pouco brilhante?
- Não é mais futura. Agora é atual. Pelo menos por enquanto.
- Já pensando em terminar?
- Nós nos desencontramos muito, não está funcionando. Pelo menos eu já tenho o telefone dela.
- E já ligou?
- Não. Talvez seja um agravante para os nossos problemas de comunicação. Ela vive reclamando que eu nunca ligo.
- Mas esse é o seu charme!
- Pois é! Só você me entende…
- E só porque eu sou sua versão feminina. Caso contrário, também não entenderia.
- Ainda bem que a vida não é feita de casos-contrários. Este seu não-namorado vai virar namorado?
- Não sei. Ele até tem potencial, mas vamos ver. Está em fase de testes.
- Não vai dar certo.
- Não rogue praga!
- Não é praga, é fato. Esse não namoro está fadado ao fracasso. Tá escrito nas estrelas.
- Você tem estrelas cultas!
- E bregas, eu sei. Mas sábias.
- E porque elas dizem que não vai dar certo?
- Por que ele não é sua alma gêmea. Nós já sabemos disso.
- Muito platônico você.
- Eu sei, não posso evitar. Sou um romântico incurável.
- Seu novo charme.
- Aquele nosso encontro… Eu não pude vir.
- Não importa, eu também não pude. De qualquer forma, nos encontramos. E sem marcar.
- Encarando de outra forma, nós dois viemos. Com algumas semanas de atraso.
- Pontuais em nossos atrasos. Definitivamente almas gêmeas.
- Desencontradas, mas gêmeas.
- Ela está muito atrasada?
- Na verdade, nem um pouco. Eu que cheguei cedo.
- Nossa, que avanço, você chegou cedo!
- Eu estava por perto e sem nada para fazer. Cheguei aqui poucos minutos antes de você.
- Ainda bem que você não me deixou esperando!
- Eu nunca faria isso, você poderia ficar traumatizada.
- Ficaria mesmo, sem dúvidas.
- Esse agora também quer ser médico?
- Não. Advogado.
- Advogado?! Tá vendo só, que futuro isso pode ter?
- Ah, advogados não são tão ruins…
- Você diz isso porque ainda não é seu namorado. Se fosse, você pensaria diferente.
- Talvez. Só vou saber quando for.
- Não perca seu tempo, largue logo dele. Não vai dar certo, você sempre vai pensar em mim.
- Pretensioso, você!
- Realista, acima de tudo.
- Já que está escrito nas estrelas, não precisamos nos preocupar.
- Mas podíamos nos poupar um bom tempo.
- "Não se afobe não que nada é pra já..." Quem sabe um dia a gente se encontra, livres e desimpedidos. Sem futuros namorados em potencial ou atuais futuros ex.
- Falando nisso, ela está vindo. Até a próxima vez, Marcela.
- Até lá, Alex.
- Preste mais atenção às estrelas.
- Elas são bregas, mas sábias, né?!
- Não duvide.