Uma história em três atos
(…) Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás, amor, a minha paz
Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás a minha paz
Consta nos mapas, nos lábios, nos lápis
Consta nos Ovnis, no Pravda, na Vodca”
Ato 3
- Esperando alguém?
- Você. Tinha certeza de que ia lhe encontrar aqui, então vim.
- As estrelas disseram?
- Por aí. Esperando alguém?
- Na verdade não. Estava de passagem, vi você, vim até aqui. Não podia decepcionar as estrelas.
- E o advogado?
- Você tinha razão. Namoramos por dois meses e eu entendi que não tinha futuro. Era sempre um papo muito chato.
- Esses advogados...
- Agora estou solteira. Livre, leve e solta.
- Como havia de ser!
- E é. E a menina pouco brilhante? Virou ex mesmo?
- Virou. Ela me trocou por um estudante de medicina. Acredita?!
- Nossa, será que era Ele!?
- Não sei. Mas foi bom, pelo menos eu não precisei me sentir culpado por terminar com Ela.
- Aposto que você até se fez de muito magoado para Ela se sentir culpada.
- Ah, só um pouco...
- Vocês, homens, são sempre assim: detestam terminar namoros. Preferem que as mulheres terminem para não precisarem sentir culpa.
- Não é bem assim. Foi para o bem dela. Tenho certeza que ela ficou muito mais feliz acreditando que eu queria continuar o namoro do que se eu tivesse terminado.
- O estranho é que esse raciocínio tem bastante lógica. E até um quê de romantismo.
- Claro que tem, eu sou romântico, já disse. Falando em romances, será que chegou a nossa hora?
- Pergunte às estrelas.
- Elas não sabem. São só estrelas, não bolas de cristal. Nem relógio.
- Você tinha razão, você é estranho.
- Eu avisei.
- Só num terceiro encontro para perceber.
- É meu charme. O maior de todos.
- Conceitos estranhos...
- Ah, disso você já sabia! Você deve mesmo ser minha lagosta.
- Você vê friends! As chances de você ser minha lagosta aumentaram exponencialmente.
- Nossos encontros e desencontros não podem ser por mero acaso.
- Isso já tá virando filme.
- Dirigidos por Sofia Coppola. É, acho que temos futuro. Ela pode até dirigir, mas nós fazemos o roteiro.
- Então vamos logo combinar: nada de filme de terror. Suspense, só de vez em quando.
- Comédia romântica ou filme cabeça?
- Sejamos cult, enquanto pudermos. Mas não muito, pra não cansar.
- Antes de mais nada, eu devo confessar uma coisa.
- Então vamos começar com confissões?! Espero que não vire filme religioso... ou pior, policial. Não matou ninguém, né? Seria muito estranho ter que ligar pro ex-namorado...
- Estranho, desagradável, tanto faz. Mas não matei ninguém, pelo menos que eu saiba. E também não é nada que me obrigue a rezar um rosário para me redimir.
- Você não tem mesmo a menor cara de quem reza rosários...
- Nem sei no que consiste, na verdade. Mas para de me enrolar e deixa-me confessar: desde que nos conhecemos, sempre marco meus encontros aqui.
- Eu sou mesmo irresistível, é o meu charme!
- E pretensiosa...
- Aprendi com você!
- Sorte que em você funciona.
- Bem, já que estamos confessando...
- Acho que mais cedo ou mais tarde vamos ter que descobrir como se reza um rosário!
- (risos) Eu também. Também acho e também marquei muitos encontros por aqui na esperança de rever você.
- É, teria sido mais fácil se você tivesse me dado o seu telefone…
- Nem sempre o melhor caminho é o mais fácil, né!
- Dificilmente é o mais divertido também.
- Então vem, vamos nos divertir.
- Fácil assim?
- Prefere esperar outro encontro casual?
- Claro! não sei começar nada sem meu charme de 15 minutos atrasado.
- Eu não abusaria da sorte…
- Peraí.
Alex sai. Marcela fica olhando, sem entender nada, até ele virar a esquina e sumir de seu campo de visão. Ela pensa que talvez ele tenha ido telefonar pra desmarcar o encontro que estava esperando, então espera. E espera mais um pouco. Depois de 5 minutos, começa a pensar que ele deve ter ido ao banheiro. Ou ele tinha marcado vários encontros com várias pessoas. Não… será? Não!… Depois de 10 minutos, já irritada com aquela espera toda, ela começa a reparar que os sapatos que está calçando aperta os dedões dos pés, o que a deixa ainda mais irritada! De repente, ela é abraçada pelas costas, mas nem tem muito tempo de se assustar e sente um beijo em seu rosto, muito carinhoso, beijo de gente culpada.
- Estou há quinze minutos te esperando, aff! Esse seu charme não funcionou comigo. - Ela fala olhando pra ele, franzindo a testa e cruzando os braços. Faz até um bico indignado pra completar a pose.
- Eu não acabei ainda. - E, de surpresa, dá um beijo nela, na boca dessa vez, né!, desmanchando aquele biquinho, e bom, hummm.
- Hummm... então é esse o seu charme...