segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Blues

Tem uma mão espremendo o meu coração, fazendo lágrimas aparecerem nos olhos e um nó na garganta. É uma vontade de chorar sem motivo que me faz sentir saudades, e não o contrário, como é de costume. Bem, pelo menos eu acho que o normal é você sentir saudades e por isso ter vontade de chorar. Mas comigo não: primeiro veio a vontade de chorar, depois chegaram as saudades. Abro uma garrafa de vinho tinto suave e me sirvo de uma taça. Ligo o som, escolho um cd de blues, ponho pra tocar não muito alto. Apago as luzes e acendo umas velas. É madrugada, a cidade inteira dorme. Tudo o que vem lá de fora é silêncio e escuridão, combina bem com o meu estado de espírito. Sento-me em uma cadeira reclinada, absorvendo a música e sorvendo o vinho. Deixo-me levar pela melodia e pela melancolia, sentindo o coração cada vez mais espremido, nodando a garganta e alagando os olhos. Minha cabeça flutua. A tristeza pura é leve, vazia. Não é um bom momento para racionalizar, mas mesmo assim tento identificar minhas emoções. Há saudade, um toque de amargura, um bocado de frustração e a tristeza sem motivo. Começou com um sonho do qual não me lembro: o sonho se foi, mas a sensação ficou. Sensação de impotência, de falta, de blues. A tal da saudade. A solidão da madrugada enaltecida pelo vinho, brilhando pela escuridão. Desisto de resistir e fecho os olhos. Deixo a canção penetrar pelos poros e as lágrimas saírem sem controle. Choro como uma criança assustada, sozinha e indefesa. O tempo passa sem que eu perceba, abro os olhos. Uma das velas se apagou. Levanto da cadeira, paro a música, apago as outras velas. A vontade de chorar passou, mas a tristeza indefinida continua aqui. Deito-me na cama, abraçando um travesseiro, abraçada pela saudade. Fecho os olhos, os blues ainda tocam dentro de mim. Deixo os pensamentos flutuarem até o mundo dos sonhos. Talvez tudo mude com a manhã.
Só me resta a esperança.

domingo, 18 de novembro de 2007

Solidão

Passo dias olhando pro teto
de estrelas de plástico
que eu mesma pendurei.
Lá fora, passam as nuvens,
passa o sol,
passa a chuva,
passa a lua,
até as estrelas de verdade...
Lá fora tem gente gritando,
carros correndo
e buzinas tocando.

Aqui dentro, toca Jazz e Blues.
Um saxofone chora,
um piano vibra,
corações dançam
e espíritos flutuam...
Eu apenas ouço
e deixo o espírito se levar
em um mar de emoções alheias,
que encharcam as minhas próprias,
sem conseguir me lavar.

Leio palavras que nunca foram minhas,
nem para mim foram escritas,
mas não importa,
eu as tomo,
passam a ser minhas
assim que tocam os olhos
e se inscrevem na alma.

Palavras
que não formam o mundo
nem sobreviveriam à realidade,
mas estão salvas aqui,
dentro dos livros,
dentro de mim.

Coleciono imagens que nunca vi
numa galeria imaginária,
com outras que até vivi,
ou quase,
repintadas com as cores da memória.
Lembro de gente que inventei,
reinvento gente que conheci,
conheço gente de que nem me lembro...

Tudo acontece sob esse teto que me olha
com suas estrelas fluorescentes,
essa música que me ouve
sem piano e saxofone,
essas palavras que me lêem
sem mentiras e sem verdades,
e essas imagens que me pintam
com cores que nem existem...


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Não abandonei o blog, mas acho que estou em um hiato criativo. O que é quase estranho, considerando a introspecção que me tomou nessas últimas semanas... Estou atolada em coisas pra fazer (como sempre, aliás) e só passei aqui para mostrar que ainda vivo. O texto talvez não faça muito sentido, escrevi agora em, sei lá, cinco ou dez minutos (o tempo passa em um ritmo estranho no meu mundo). Não pensei muito sobre ele, não escolhi muito as palavras. Está tão desleixado e avoado quanto eu tenho estado. Talvez outro dia eu tente melhorá-lo. Eu tinha feito um acordo comigo mesma de não dar explicações e nem escrever a esmo quando comecei o blog neste endereço, mas não dá pra evitar. Tudo o que tenho escrito recentemente são conversas informais com o papel e, tendo em vista o "hiato criativo", o acordo meio que foi para o espaço. Mas por enquanto chega.
Tchau.